O Que é o Peeling de Fenol? Especialistas Explicam Após Tragédia em SP

O Que é o Peeling de Fenol? Especialistas Explicam Após Tragédia em SP

Rio – A morte do empresário Henrique Chagas, de 27 anos, após realizar um peeling de fenol na clínica de estética da influenciadora Natalia Becker, na Zona Sul de São Paulo, nesta segunda-feira (3), chocou a população. O caso, inicialmente registrado como morte suspeita, foi reclassificado como homicídio.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), Natalia foi indiciada por homicídio doloso (com intenção de matar), nesta quarta-feira (5). O marido e funcionários da clínica ainda serão ouvidos. As investigações prosseguem pelo 27º Distrito Policial (Campo Belo) e laudos periciais estão em elaboração para o total esclarecimento do caso.


Entenda o que é peeling 
Como se trata de um procedimento invasivo e assustador, de acordo com as imagens e relatos nas redes sociais, o DIA conversou com médicas dermatologistas para explicar o que é o peeling de fenol e os riscos que ele apresenta para os pacientes.
Os procedimentos conhecidos como peeling servem para fazer a pele descamar, promovendo uma aparência mais jovem e renovada. Podendo ser feito com diversas substâncias, os peelings são classificados em três tipos: superficial, médio ou profundo.
Como explica a dermatologista Regina Schechtman, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Rio de Janeiro (SBDRJ) e responsável pelo setor de cosmiatria do Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), os peelings fazem uma “renovação das células da pele, da epiderme, e isso traz uma aparência mais jovial à pele. Quanto mais profundo, maior o resultado de renovação de embelezamento, mas maior o risco”.

Peeling de fenol atua em camadas mais profundas da pele
Diferente de outras substâncias, o fenol é mais agressivo e atinge as camadas mais profundas da pele, o que causa um risco maior de complicações. Para fazer o peeling de fenol, são necessários alguns cuidados, como alerta a secretária geral da SBDRJ, a dermatologista Maria Cristina Castro:
“O paciente tem que ter no mínimo um ambiente em que você possa socorrer ele caso alguma complicação aconteça. Eu brinco que não pode ser no sofá da sala, não pode ser em qualquer lugar. Um procedimento desse tipo, especificamente este peeling, você tem que ter o mínimo de monitorização. Se você percebe que o paciente está tendo algum tipo de dano, para o procedimento e o socorre”, alerta.
Por ser mais profundo, o peeling de fenol não pode ser realizado por esteticistas. Apenas médicos dermatologistas ou cirurgiões plásticos estão habilitados para realizar este procedimento. “A gente diz que este é o peeling do médico, não é qualquer um que pode fazer. E mesmo o médico, ele tem que estar treinado e ter um ambiente com todos os recursos. Os médicos têm protocolos para agilizar o socorro, porque três ou cinco segundos podem ser importantes para o paciente. Os esteticistas, têm vários peelings que pode fazer, mais superficiais, mas não um que é bem mais profundo, que gera mais risco”, diz Maria Cristina.
“O profissional médico geralmente mais habilitado é o dermatologista ou o cirurgião plástico, que estuda tudo isso e ele domina essas técnicas, tanto bioquímicas como físicas. E conhece o organismo para lidar com as complicações que porventura possam ocorrer”, conta Regina.

Peeling de fenol apresenta riscos para o coração e rins
Segundo as médicas, o peeling de fenol é um procedimento antigo, muito famosos antes dos lasers, mas que voltou à moda há pouco tempo. Embora tenha resultados de ação profunda, entre os motivos dos médicos terem parado usá-lo estão os riscos que ele traz ao coração e aos rins.
“O fenol é cardiotóxico e nefrotóxico, faz danos ao coração e ao rim, principalmente. O paciente, antes de se submeter a esse procedimento, precisa ser avaliado para saber as condições de saúde. E o profissional médico avaliar esse paciente para saber se ele pode fazer esse procedimento ou não, se apresenta riscos a ele ou não”, alerta Regina.
“Essa forma, apesar de ser muito antiga, veio se modificando e realmente, de fato, o peeling de fenol veio melhorando, fazendo com que a absorção dessa substância mais tóxica ao coração, fosse menos absorvido, mas, mesmo assim, ele requer um mínimo de cuidado”, afirma Maria Cristina.
Um dos tópicos pontuado pelas médicas é a necessidade de uma boa conversa entre médico e paciente antes do procedimento, para que seja entendido o estilo de vida e os possíveis problemas de saúde do paciente. Na maioria dos casos, são solicitados exames antes da realização do peeling de fenol.
Além dos perigos ao coração e rins, as profissionais ainda alertam para as infecções que o paciente pode ter devido ao peeling de fenol. Ainda há o risco da pessoa ficar com mais marcas e cicatrizes se comparado a antes, caso não cuide direito da pele após o procedimento.
Pessoas jovens não são os pacientes mais frequentes
Por ter a característica de alcançar as camadas mais profundas da pele, o peeling de fenol é mais recorrente para pessoas que possuem muitas rugas e bem marcadas. Embora também sirva para marcas de acne, Maria Cristina afirma que há outras formas menos invasivas para tratamento.
“Pode ser usado para marca de acne. Antigamente se usava bastante, hoje em dia é menos comum, tem tanto aparelho de laser que faz de uma forma mais segura. A cicatriz de acne, a gente brinca que é uma coisa multitratamento. Você tem diversos recursos, diversas armas, diversas possibilidades que você pode sentar e conversar com o paciente”, diz.
“Pessoas mais pessoas jovens normalmente não tem necessidade. O peeling de fenol é melhor para quem tem rugas mais profundas. Geralmente, uma pessoa mais velha, com mais foto dano ou mais cicatrizes na pele é quem tem a melhor indicação para esse peeling”, completa Regina.
Como é o procedimento?
O procedimento em si é simples. Segundo Regina, a aplicação do peeling de fenol é como qualquer outra. A diferença está na ação da substância na pele. “Ele feito como qualquer um outro peeling. A pele é limpa, aplica-se a substância e observa-se a reação da pele pela mudança de coloração. A partir de um certo momento, a gente aplica uma substância para bloquear o efeito, e então a pele para de absorver. E depois retira”, conta.
“A aplicação em si do produto não é complicada, por isso que muitas pessoas não habilitadas resolvem fazer. Eles falam: ‘ah, mas é muito fácil’. Sim, mas o problema não é o aplicar, o ponto é selecionar o paciente, saber se ele pode se submeter aquele método ou não, se aquele método é o mais adequado para aquele paciente e para aquele problema, e depois disso, fazer um bom acompanhamento no pós-procedimento”, completa Maria Cristina.
Como é a recuperação?
Por se tratar de uma queimadura química, o pós-procedimento do peeling de fenol é delicado e requer muitos cuidados. Entre eles, a constante hidratação da pele e a proibição de exposição ao sol são os pontos mais enfatizados pelas médicas.
“Muitas vezes fica bem feio, porque é uma queimadura química. Num primeiro momento fica uma ardência, fica um pouco esbranquiçado na hora, depois esse branco vai indo embora e dá lugar a uma coloração marrom e se forma uma crosta, que como é feita com o produto químico, é bem homogênea e inteiriça. O paciente não pode manipular a área de jeito nenhum, não pode arrancar a crosta, não pode esfregar, não pode ter atrito, não pode se expor ao calor, não pode se expor ao sol. São diversas variáveis que podem atrapalhar o resultado final”, conta Maria Cristina.
“A pele vai descolando e a pessoa precisa aplicar substâncias que são reparadoras da barreira cutânea. E aí a pele vai recuperando tão longo do tempo. Quanto mais agressivo o peeling, mais tempo para recuperar e não pode arrancar a pele. Geralmente o profissional que faz esse peeling acompanha o paciente nas primeiras 24 horas depois, cada 48 horas, depois semanal, até a pessoa ser liberada”, diz Regina.
Por se tratar de um procedimento invasivo, a recuperação total do peeling de fenol pode demorar. De acordo com as médicas, é algo que varia de um paciente para o outro. Segundo Maria Cristina, a pessoa que passar pelo tratamento deve separar, no mínimo, 15 dias para o pós-peeling.
“Geralmente pode ser de 15 a pelo menos 30 dias. Alguns pacientes demoram um pouquinho mais. E mesmo em 30 dias, alguns pacientes permanecem com o rosto rosa, fica um eritema ainda. E esse eritema pode persistir ainda por algum tempo, às vezes com um mês não some”, completa Maria Cristina.
Mesmo após a recuperação total, o paciente precisa ter um cuidado extra com a pele do rosto. Por se tratar de uma pele nova, a hidratação e proteção solar são essenciais para um bom resultado. Além disso, as médicas alertam para a escolha do sabonete, já que não pode ser muito detergente. Aos poucos, a pessoa retorna à rotina de cuidados com a pele, mas sempre tomando cuidado com os produtos que escolhe.
Pacientes devem consultar se profissional é habilitado
Antes de realizar o peeling de fenol, o paciente deve se informar para saber o profissional escolhido tem habilitação para este tipo de procedimento. É importante pesquisar e confirmar que se trata de um médico, dermatologista ou cirurgião plástico.