Morre no Rio de Janeiro o sambista Arlindo Cruz, aos 66 anos

Morre no Rio de Janeiro o sambista Arlindo Cruz, aos 66 anos

O cantor, compositor e multi-instrumentista Arlindo Cruz, um dos grandes nomes da história do samba, faleceu nesta sexta-feira (8), no Rio de Janeiro, aos 66 anos. A informação foi confirmada pela esposa do artista, Babi Cruz. Ele estava internado no hospital Barra D’Or, na Zona Oeste da cidade.

Arlindo sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico em março de 2017 e, desde então, enfrentava complicações de saúde, com diversas internações ao longo dos últimos anos. Desde o AVC, o artista deixou de se apresentar.

A família divulgou uma nota de pesar:
“Com imenso pesar, a família e a equipe de Arlindo Cruz comunicam seu falecimento. Mais do que um artista, Arlindo foi um poeta do samba, um homem de fé, generosidade e alegria, que dedicou sua vida a levar música e amor a todos que cruzaram seu caminho. Sua voz, suas composições e seu sorriso permanecerão vivos na memória e no coração de milhões de admiradores.”

O texto ainda acrescenta:
“Agradecemos profundamente todas as mensagens de carinho, orações e gestos de apoio recebidos ao longo de sua trajetória e, especialmente, neste momento de despedida. Arlindo parte deixando um legado imenso para a cultura brasileira e um exemplo de força, humildade e paixão pela arte.”

Um legado de samba e poesia

Arlindo Domingos da Cruz Filho nasceu no Rio de Janeiro em 14 de setembro de 1958. Foi apelidado por amigos e admiradores de “o sambista perfeito”, expressão que virou título de uma biografia lançada em 2025, e também referência a uma de suas composições, feita em parceria com Nei Lopes.

Cavaquinista desde os 7 anos, aprendeu violão ao lado do irmão Acyr Marques e se destacou desde cedo no cenário do samba. Na juventude, estudou teoria musical e violão clássico, e participou de rodas de samba com grandes nomes como Candeia, que se tornou uma espécie de “padrinho musical”.

Foi em estúdios com o próprio Candeia que Arlindo fez suas primeiras gravações. Aos 15 anos, viveu em Barbacena (MG), onde venceu festivais de música antes de retornar ao Rio.

De volta à capital fluminense, integrou a tradicional roda de samba do Cacique de Ramos e se tornou parceiro de nomes como Zeca Pagodinho e Sombrinha. Logo teve composições gravadas por Beth Carvalho, Alcione e outros grandes intérpretes.

Fundo de Quintal e carreira solo

Arlindo ganhou projeção nacional ao substituir Jorge Aragão no grupo Fundo de Quintal, com o qual permaneceu por 12 anos. Gravou sucessos como “Seja Sambista Também”, “Só pra Contrariar” e “O Mapa da Mina”. Em 1993, deixou o grupo e seguiu em carreira solo, consolidando ainda mais seu nome no samba.

Teve mais de 550 composições gravadas, segundo seu perfil oficial, e participou de diversos álbuns e projetos, como o DVD “Arlindo Cruz MTV ao Vivo” (2009) e “Batuques do Meu Lugar” (2012), com participações de Alcione, Caetano Veloso e Zeca Pagodinho.

Sambas-enredo e homenagens

Torcedor apaixonado pelo Flamengo e filho do Império Serrano, Arlindo também brilhou como autor de sambas-enredo. Sua primeira vitória na escola veio em 1996, com o enredo “E verás que um filho teu não foge à luta”. Compôs sambas para a agremiação também nos anos seguintes e foi homenageado pelo Império Serrano no Carnaval de 2023, quando virou enredo com o tema “O show tem que continuar”.

Em 2008, passou a escrever sambas para a Grande Rio, ampliando sua atuação no mundo do carnaval.

Arlindo Cruz deixa um legado imenso para o samba e para a cultura popular brasileira. Sua obra continua a emocionar gerações e inspira novos artistas a seguirem o caminho da música com paixão, verdade e alegria.